Processo de alimentação do lactante


ALIMENTAÇÃO COMPLEMENTAR DURANTE O PRIMEIRO ANO DE VIDA DAS CRIANÇAS COM SÍNDROME DE DOWN

Para o lactante com síndrome de Down, a introdução da alimentação complementar vai ser um acúmulo de novas experiências. Convém converter estas experiências em algo agradável e respeitar o gosto e o apetite da criança, não devendo forçá-la a comer, já que a criança, desde pequena, controla seu apetite. Portanto, frente a uma recusa insistente de um alimento, é preferível suspendê-lo e tentar voltar a introduzi-lo alguns dias depois. Com a introdução da alimentação complementar, teremos múltiplas oportunidades para estimular o desenvolvimento psicomotor do lactante, procurando favorecer, na medida do possível, a autonomia do bebê.

Dificuldades nos lactantes com síndrome de Down, e formas de solucioná-las
Muitos lactantes com síndrome de Down não vão a ter nenhum problema na hora de introduzir a alimentação complementar, especialmente os que foram alimentados com leite materno, já que ele condiciona um melhor desenvolvimento motor oral.
Os pais costumam ficar preocupados e ter medo que a criança se engasgue e não consiga mastigar pela falta de dentes, que costumam aparecer um pouco mais tarde que em outras crianças. Algumas vezes, estas preocupações levam a um atraso na introdução dos alimentos para além dos 6-7 meses, o que é prejudicial para o desenvolvimento do lactante.
Os principais problemas, quando aparecem, estão relacionados com a mastigação e a deglutição. Em alguns casos, os lactantes cospem os alimentos, têm dificuldades para levar o alimento para a parte lateral da boca para começar a mastigação, ou têm dificuldades para beber líquidos de um copo ou inclusive para engolir o alimento. Estes problemas não nos devem fazer desistir de introduzir a alimentação complementar.

Para resolver estes problemas, recomenda-se começar até os 6 meses com uma alimentação semi-sólida. O alimento deve ser relativamente espesso, mas sem que dificulte os movimentos da língua e deve ser oferecido com colher, em pequenas quantidades, na parte central da boca e somente quando a língua estiver dentro da boca. A colher deve ser situada na zona média da língua, fazendo uma leve pressão para baixo. Com freqüência, se a criança não fecha a boca para engolir o alimento, é necessário ajudá-la imobilizando a mandíbula, quer dizer, ajudando-o com nossa mão a manter a boca fechada depois de introduzir o alimento, para que ela não possa cuspi-lo e para que os movimentos dos lábios e da língua melhorem. É conveniente colocar sempre a criança o mais vertical possível, com o tronco reto.
Depois, para facilitar o processo de aprendizagem da mastigação, pelos 7-9 meses, devemos ir aumentando a consistência dos alimentos passando-os menos pelo liquidificador. Em seguida, começar a oferecer alimentos sólidos, mas que se desfaçam facilmente na boca da criança. Esta fase costuma coincidir com a aparição dos primeiros incisivos. A criança tem que ir aprendendo a morder e mastigar. Depois de morder um pedaço, o alimento deve ser levado aos lados da boca para iniciar a lateralização da língua e para isso, em algumas ocasiões se necessita da ajuda da pessoa que está lhe dando a comida. Também algumas vezes devemos ajudá-la a manter a boca fechada.
Assim que for possível, começaremos a favorecer a autonomia da criança. Inicialmente, mediante o uso dos dedos para pegar os alimentos, començando com pão, biscoitos, pedaços de fruta; e depois, oferecendo-lhe uma grande variedade de alimentos com diferentes sabores, cheiros, texturas e cores. Mais adiante, durante o segundo ano de vida, começaremos a ensinar o uso da colher e a beber no copo.
Para aprender a utilizar a colher a criança deve estar corretamente sentada em uma cadeira adequada. O prato deve ser o suficientemente profundo para permitir que a criança encha facilmente a colher. Costuma ser necessário, a princípio, ajudá-lo, dirigindo seus movimentos (pôr a colher na boca, levar a colher até o prato e encher a colher). É preferível que os alimentos sejam sólidos, melhor que semi-sólidos para estimular a mastigação e não desenvolver condutas de sucção imaturas.
É importante começar a utilização do copo para beber por volta de um ano. Aos 18 meses é recomendável que não se utilize a mamadeira, especialmente se, quando se utilizar a colher, a criança tender a lambê-la e não a retrai a língua quando é oferecida a colher. Para ajudar à criança, às vezes é necessário começar com líquidos um pouco mais espessos e depois voltar gradualmente a sua consistência original. É importante que a criança mantenha a língua dentro da boca e não dentro nem debaixo do copo. Para isso, colocamos o copo sobre o lábio inferior, exercendo uma pequena pressão e, se for necessário, coloca-se um dedo da pessoa que ajuda a criança a beber debaixo da borda do copo e do lábio inferior para evitar que a língua saia da boca. Quando for possível, a criança passará a beber sozinho segurando o copo com as duas mãos e evitando o uso de copos com bico e com asas.
A aquisição destas e de outras habilidades durante o processo de alimentação do lactante durante os primeiros anos de vida supõe um grande desafio para os pais, mas contribuem de forma eficaz para o desenvolvimento psicomotor.


* Comer vai se converter numa grande tarefa educativa. A exploração visual dos alimentos, em combinação com o uso das mãos e, depois, da colher e do copo, são ações motoras complexas que elas vão adquirindo, e que contribuem para a sua independência e para o seu desenvolvimento global.

Ana Tejerina Puente
Pediatra, Centro de Salud Cazoña
Assessora Médica, Fundação Síndrome de Down de Cantabria, Santander

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